quarta-feira, 3 de março de 2010

O Olhar Psicologico perante a Crise Económica

Perante esta crise financeira à escala mundial em que nos encontramos, onde todos os dias fecham milhares de empresas lançando milhares de trabalhadores para o desemprego, onde os despedimentos são a ordem natural do dia, e onde milhares de pessoas vêem os seus salários congelados e em atraso, não esquecendo o cenário em que essa realidade caiu onde já predominava a desvalorização de valores, seja crise de valores.
Atirando milhares de pessoas para a miséria, sem um ordenado, para sustentar a casa e os filhos. De que vive esta gente? Agora? Sem esperança num amanhã… As famílias essas vêem-se fragilizadas sem meios de subsistência, arrancadas ao mundo, lutam para conseguir de volta um emprego que lhes dê o alimento para cada dia. Bem sei que a crise fragiliza emocionalmente as pessoas deprimindo-as, entristecendo-as, mas não nos podemos deixar vencer pela crise nem pela tristeza, temos que ter forças, energia positiva para nos erguermos e continuarmos caminhado todos os dias. Temos que lutar, ter fé, às vezes uma simples crença em Deus ou em algo de transcendente e sobrenatural ajuda-nos a ter esperança para enfrentarmos o dia-a-dia que às vezes mais parece um inferno para quem o vive diariamente sem ter para viver.
Debruçando-me entre o teclado do computador e a vista da minha janela perante a imensidão da serra penso e pergunto-me quantos jovens que como eu terminaram os seus cursos vêem-se neste momento com as suas vidas adiadas, sem um emprego, ou com empregos precários, vivendo ainda dependentes dos seus progenitores, ou vendo-se obrigados a trabalharem em coisas diferentes daquelas para a qual estudaram, mas contudo sonhando num amanha diferente para os seus filhos, ou ainda questionando-se se valera a pena tê-los.
Com este quadro de desemprego, vidas adiadas, trabalhos precários, as perdas são muitas e os ganhos muito insuficientes e frequentemente deparamo-nos com o medo e a incerteza de um futuro para os nossos filhos, acreditamos muitas vezes que o futuro é uma extensão do presente. E muitas vezes temos dificuldades em imagina-lo bom. Mas não nos podemos prender a este medo, temos que vencer o medo acreditando que o amanha nascerá melhor, mais sólido e mais humano que o presente.
Perante esta crise económico-financeira grave estamos ainda perante uma grave crise de valores, onde os valores humanos de solidariedade e partilha de uma comunidade deram lugar a um único ideal o capitalismo das sociedades modernas e o lucro fácil. Li algures num artigo da visão em que apontam como uma das possíveis soluções para esta crise económico-financeira e de valores, viver em pequenas comunidades Intentional Community, o que já está a acontecer nos Estados Unidos da América onde as pessoas desempregadas e sem meios monetários para sobreviver já começaram a aderir a este sistema de vida em comunidade. São as chamadas Eco-villages não são formadas por um conjunto de hippies, mas por pessoas que partilham o mesmo modo de estar, empenhadas em sobreviver sem dinheiro, num sistema auto-sustentável de sobrevivência. Comunidades independentes de sistemas políticos ou religiosos, em que cada pessoa é livre de ter a sua próprias crença ou ideologia. São Comunidades onde as pessoas partilham e convivem em solidariedade com o seu semelhante. São comunidades onde existem casas para todos, trabalho, comida, educação, e onde se pratica o sistema de troca em que cada um dá como moeda o que produz, e onde o mútuo entendimento é uma solução cada vez mais viável para os tempos de "crise" que correm. Está crise que estamos vivendo não terá surgido por falta de humanidade e espírito de partilha entre as comunidades, está crise é uma crise também ela de valores humanos e sociais onde as pessoas alienadas no consumo desmedido do ter cada vez mais, esquecem-se do ser e dos valores da comunhão, da solidariedade e da partilha. E é pela partilha e pela solidariedade que nascem comunidades mais fortes e mais saudáveis, como refere Rappaport, 1994 (cit por Ornelas, 2008) “na perspectiva da psicologia comunitária, existe uma relação entre a qualidade de vida dos indivíduos e da comunidade, pelo que as comunidades fortes beneficiam os indivíduos. Pertencer a um grupo, organização ou comunidade, em que a pessoa possa dar e receber apoio é uma forma de aumentar o controlo pessoal, ou seja, aumentar a influência nas várias esferas da sua vida.” É em contextos deste género, formais e informais, que as pessoas podem encontrar recursos materiais, desenvolver afinidades e sentimentos de identidade, de pertença a grupos, de integração e de comunidade, através das relações com os outros.
Já não se fala de outra coisa na comunicação social do que a palavra “crise”, este bombardear constante faz com que as pessoas vivam ainda mais atormentadas.
A crise do sistema político económico vigente dá que pensar. É urgente um reajustamento deste, que não pode estar apenas centrado nos valores económicos, é imprescindível dar também algum ênfase aos valores humanos, para que possamos ter melhor qualidade vida. A Humanidade necessita de valores, de afectos e de solidariedade para que possa crescer sã. Pode ser esta a fórmula que faltava para que as pessoas se tornem mais solidárias, mais participativas, mais integrativas e mais humanizadas na comunidade onde vivem.




Texto Publicado em: http://va.vidasalternativas.eu/

1 comentário:

  1. Blog?!?!? Hum... para quem nem sequer sabia o que era o you tube não está nada mal!!! E esta influência da Psicologia Comunitária... onde é que eu já ouvi isto???
    Rosa

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