quarta-feira, 10 de março de 2010

Considerações do Colóquio em Albufeira sobre Homossexualidade


Considerações do Colóquio em Albufeira sobre Homossexualidade


No dia 4 de Março de 2010, realizou-se em Albufeira um colóquio sobre a homossexualidade, promovido por um grupo de alunos da Escola Secundária de Albufeira, no âmbito do projecto área escola denominado "Quebra-tabus". A mesa era constituída pela psicóloga Vânia Belliz, pelo presidente da Opus Gay Prof. António Serzedelo, pelo Sacerdote César Chantre e pelo Professor Jorge de Bacelar Gouveia advogado da Plataforma Cidadania e Casamento.

A mesa abriu o debate colocando à assembleia as seguintes questões; “Existe homofobia na escola?”, e “Vocês contribuem para isso?”, ao que seguiu uma risada geral.
O Sacerdote César Chantre apresentou um discurso claro e nada homofóbico, no qual referia que “Para a igreja todos são filhos e quem for contra isso desvia-se do caminho de Cristo”.

Foram ainda levantadas outras questões relacionadas com a vida das pessoas homossexuais, das quais destaco, o conflito e/ou desconforto com a sua orientação sexual, a dúvida e o questionamento sobre as suas implicações. Isto é algo que normalmente é vivido pelo homossexual com sofrimento, pois envolve a sua auto-imagem e o lidar com as pressões com que se debate para afirmar a sua identidade. Tratam-se pois de “crises” vividas por indefinição da orientação sexual, por quem teme o que acontecerá após a revelação da sua orientação sexual ou por quem assumiu uma orientação e por isso, passa por situações problemáticas. A mesa esteve unânime ao afirmar que a descoberta da homossexualidade num indivíduo acarreta um grande sofrimento interior para esse mesmo indivíduo. Sofrimento esse, causado pela discriminação a que estes indivíduos estão sujeitos, uma vez que a nossa sociedade ainda trata de alguma forma a sexualidade como um tabu, quanto mais a homossexualidade. Há toda uma cultura associada à sexualidade onde a heterossexualidade, está definida como, um padrão e no que diz respeito à homossexualidade considera-a como um desvio, logo anormal. Esta imagem cultural está ainda muito marcada na nossa sociedade, só o tempo e a informação/formação podem contribuir para atenuar e vencer este estigma. Os medos relacionados com a identidade sexual, leia-se homossexualidade, estão relacionados normalmente com a vulnerabilidade à discriminação, à violência e à hostilidade por parte dos outros ou o receio de perdas pessoais, no seio da família, dos amigos, no trabalho, e na comunidade.

Devido ao preconceito homofóbico da sociedade, o homossexual começa por interiorizar a crença de que não é possível ter uma relação íntima estável, e é provável que não consiga construir uma relação, devido à crença em si e não às possibilidades reais. De acordo com Meyer & Dean, (1998), os homossexuais que internalizam os valores sociais sobre a centralidade da família heterossexual para alcançar a intimidade e felicidade, estão, pelos padrões sociais, destinados ao fracasso, pois acreditam que a felicidade só estará ao alcance desse tipo de família, levando-o a interiorizar (homofobia internalizada) a crença de que é menos válido como pessoa ("ou menos homem") se for homossexual, o que conduz frequentemente a sentimentos de inferioridade, conflitos e baixa auto-estima.

Fazendo minhas as palavras de Leal, I. e Pereira, H. (2005), “Muitos Homens e Mulheres homossexuais vêem-se confrontados com um conflito entre os seus sentimentos, valores e normas sociais no que diz respeito à sexualidade, intimidade e, mais abrangentemente, em relação à existência humana no seu todo.”

Quando se colocou a questão sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo o sacerdote César Chantre e o Professor Jorge de Bacelar Gouveia, defenderam uma posição mais conservadora, manifestando as suas opiniões contra o casamento homossexual e a adopção por parte de casais homossexuais. Em todo o discurso do sacerdote, sentiu-se que houve alguma confusão entre matrimónio religioso e casamento civil. Para este, os homossexuais não deveriam poder casar pois tal, é encarado como algo exclusivamente para ser vivido entre um homem e uma mulher, uma vez que são os únicos que podem procriar. Houve alguém no público que perguntou, “e se um casal heterossexual for infértil não tem direito a casar?” a resposta do sacerdote, foi “Claro que podem casar, isso são casos meramente excepcionais, não vejo aí nenhum impedimento para que não o possam fazer”.

O advogado manifestou-se contra a lei aprovada na Assembleia da República defendendo que os cidadãos deveriam poder expressar a sua opinião em referendo, e que ainda era altura para se consultar a população.

No que diz respeito à adopção, o sacerdote César Chantre e o Professor Jorge de Bacelar Gouveia, manifestaram-se contra, argumentando que tal vai contra os direitos da família, e isso iria pôr em causa a orientação sexual da criança adoptada. Tendo a psicóloga rebatido que existem estudos feitos noutros países a defender o contrário, ou seja, a orientação sexual de um casal, seja ele homossexual ou heterossexual nada interfere na orientação sexual da criança. Para a psicóloga e para o presidente da Opus Gay, o importante é que “as crianças sejam adoptadas por casais que lhes dêem carinho e afecto, do que viverem toda uma vida numa instituição de solidariedade social” e “mais vale serem adoptadas por quem lhes dê amor e ternura, do que viverem numa família expostas à violência a vida toda”.

É de louvar que as escolas através dos seus projectos de área escola ou outros debatam questões como esta que são ainda fracturantes na nossa sociedade. Tudo isto visa promover a reflexão, o debate, com vista a um maior esclarecimento e formação cultural de uma população.

Texto Publicado em: http://www.opusgay.org/index.html

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