terça-feira, 27 de março de 2012

Uma sociedade que se esquece dos mais velhos...




Ser idoso numa sociedade em que cada vez mais se esquece dos mais velhos, deixados esquecidos a um canto, institucionalizados em lares, ou nas suas casas entregues à solidão dos seus dias. Muitos desses lares não passam de depósitos de velhos sem o mínimo de humanidade, onde as pessoas ficam entregadas à sua sorte, dormitando no sofá do esquecimento. Paúl, (1997) refere que muitas vezes os idosos residentes em lares tendem a sentir-se sós e insatisfeitos, afastados das suas redes sociais num dia-a-dia monótono, ainda que vivam menos agitados. Por outro lado, os Idosos que residem na comunidade vivem mais satisfeitos, se bem que possam sentir um reduzido bem-estar, o que fica a dever-se a um profundo sentimento de “solidão” e à falta de apoio adequado mesmo para a realização de tarefas de rotina (Paúl, 1997). Podemos, pois, inverter esta situação, fazendo com que os nossos “velhos” se sintam felizes nas suas casas, criando condições não só físicas para que habitem na sua comunidade, mas também condições psicológicas, tendo alguém em quem depositam confiança para conversar sobre os seus medos, angustias receios e seus sentimentos mais íntimos, situação que pode bem fazer toda a diferença. Estamos a falar de um apoio domiciliário, não um apoio meramente físico, mas um apoio Bio-Psico-Social.  
 A institucionalização de idosos não tem, nem deve continuar a ser encarada como uma espera dolorosa pelo final da vida. Temos que promover a saúde dos idosos, encarando-a sempre como “um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas como ausência de doença” (OMS). Temos que dinamizar os lares ou levar os lares a casa das pessoas, acompanhá-las ao longo do seu percurso de vida, criar condições para que vivam plenamente o presente, sintam-se bem, felizes realizadas, ajudá-las a redescobrir o seu potencial fazendo-as sentirem-se vivas e com valor na comunidade à qual pertencem, com um profundo sentimento de bem-estar. Criando espaços onde as pessoas possam desenvolver várias actividades, como a leitura, ou ainda em Universidades da 3ª idade, onde possam aprender a ler ou a manusear o computador, ou ainda em actividades artísticas como a pintura, a expressão dramática, a música, com a participação das pessoas em grupos corais, onde se incentive o convívio social tão importante para estas pessoas como o alimento para o corpo. Temos o dever de promover condições equilibradas para que estas pessoas sintam que ainda têm um potencial na comunidade onde residem, criando oportunidades para que voltem a sonhar. Às vezes uma palavra amiga é suficiente para que estas pessoas não se sintam tão sós, às vezes basta “escutar”, escutar com o coração sentindo cada palavra que nos conta e devolvendo uma palavra amiga, um pequeno gesto de amizade, uma escuta atenta aos sinais do desanimo e da tristeza perante o envelhecimento, e devolvendo-lhes a vivacidade de outrora, fazendo-os acreditar que ainda estão vivas e que têm muito para ensinar ainda muito para aprender. E sobretudo permitindo-lhes o contacto humano para que não sintam a solidão que os seus dias acarretam e não os levem a cometer actos de suicídio por se sentirem sós e desanimados perante a vida e o envelhecimento. Enfim onde possam continuar numa Sã educação, tendo em vista uma saudável realização pessoal.
Pesquisando no mundo cibernético, reparo num Estudo da Fundação MacArthur (1984-1998) em que dá ênfase às três condições para se envelhecer “com qualidade”, são elas: manter um baixo risco de doença (estilo de vida saudável); manter um funcionamento físico e mental elevado, e ainda, manter um envolvimento e um compromisso activo com a vida. São ainda referenciados os Indicadores de “qualidade de vida” associados ao envelhecimento, que segundo Castellón, (1998-2003) são; autonomia, actividade, recursos económicos, saúde, habitação, intimidade, segurança, pertença a uma comunidade, e as relações pessoais. Nesse estudo, realizado em Espanha, Castellón verificou que 2/3 dos entrevistados valorizavam sobretudo a saúde e a autonomia. Mas noutro estudo realizado com 502 reformados, Fonseca, (1999-2004) destaca as seguintes categorias de “boa adaptação” à condição de reformado: Vida conjugal e familiar, uma ocupação gratificante do tempo livre, a (Re)definição de objectivos, o  envolvimento em actividades de cultura e lazer, e o  enriquecimento da rede social (amigos).
Segundo, uma abordagem ecológica o conceito de envelhecimento “com qualidade de vida”, visa o indivíduo no seu contexto sociocultural, integrando a sua vida actual e passada, ponderando uma dinâmica de forças entre as pressões ambientais e as suas capacidades adaptativas.
De acordo com alguns autores como Fonseca, Paúl et al., (2005) as diferenças entre o envelhecer no campo e o envelhecer na cidade no que diz respeito ao ambiente físico e social, à história de vida e ao estilo de vida dos indivíduos, parecem não influenciar o sentimento predominante de solidão que se verifica nas populações idosas das duas comunidades. Para além desse factor em comum, as atitudes face ao próprio envelhecimento são significativamente mais negativas nos idosos urbanos e o mesmo acontece com a ansiedade/agitação, que é mais acentuada nos residentes nas grandes cidades. Tomando como critério de envelhecimento “com qualidade” a autonomia, os idosos rurais apresentam uma condição superior: são mais activos, mais autónomos, as principais transições de vida têm sido suaves, sem provocar roturas assinaláveis.
            Mas conhecendo de perto as aldeias portuguesas, isoladas e desertificadas, qual de nós pensa envelhecer por lá, entregue à solidão esperando ansiosamente pelo término dos nossos dias ou noutras circunstancias não aguentando o isolamento que o próprio envelhecer acarreta acabando por conduzir à depressão e ao suicídio. 
Temos que olhar para estas pessoas como seres humanos capazes de produzir e de viver na sociedade, apesar de velhos ainda tem muito para aprender e ensinar, por serem mais velhos, tem uma experiencia de vida maior, a vida activa e profissional não acaba só por o simples facto de serem velhos. O facto de a pessoa ser velha, faz com que tenha um longo percurso de vida, o que fez com que acumulasse conhecimento e sabedoria, assim esse conhecimento pode ser transmitido às gerações mais novas como um saber de experiencia vivida. E as gerações mais novas devem olhar para os mais velhos não como um fardo, mas como um ancião que ainda tem muito para ensinar … E assim todos vivem em plena aprendizagem, ate à morte é saber viver e respeitar quem vive …